Pai diz que filho interage com outras crianças e adora ir à escola (Foto: Arquivo Pessoal/Silvio Frasson)
Um pai está inconformado com o posicionamento da escola particular onde o
filho autista, de cinco anos, estuda desde os cinco meses de vida em
Sorocaba (SP). Segundo o supervisor de contas Silvio Frasson, de 38
anos, o menino foi "convidado a se retirar" do colégio por causa do
autismo. A decisão da diretoria da escola revoltou o pai, já que foi
informado no mês de novembro, depois do pagamento da rematrícula. "Em
pleno fim de ano, quando a maioria das outras escolas já está cheia para
o próximo ano, eles me chamaram para uma reunião, como sempre faziam
para falar sobre o desenvolvimento do meu filho. Mas fui surpreendido
quando disseram que ele deveria sair da escola, porque não iam mais
conseguir atendê-lo".
Em nota, a diretoria da Colégio Uirapuru informa que recebe
indistintivamente as crianças com deficiência e, com a contribuição de
especialistas da escola e da família, procura todos os mecanismos de
inclusão. "Apesar disso, em alguns casos não obtém bons resultados e
assim tem que sugerir outras alternativas que a própria legislação
indica", declara o colégio. A escola também informou que se recusa a discutir publicamente qualquer caso que possa expor a privacidade de seus alunos e suas famílias.
Silvio comenta que tentou dar alternativas durante a reunião - como uma
professora auxiliar para acompanhá-lo em sala de aula - para que o
menino não precisasse sair do colégio. "Excluíram meu filho, não tem
outra palavra. Tinham recursos para atendê-lo até agora, que era só
trocar fralda e alimentar, praticamente, mas na hora de ensinar, pularam
fora. É direito do meu filho ter uma boa educação. Ele adora a escola,
que, inclusive, ajudou no diagnóstico no autismo e sempre foi muito
importante no desenvolvimento dele. Ele ama estudar lá e agora vão tirar
isso dele", indigna-se.
Após assinar o desligamento do filho e receber o reembolso da
rematrícula, Silvio mostrou sua indignação nas redes sociais, em uma
publicação que foi compartilhada por centenas de pessoas. "Não tem como
ficar calado diante de uma situação como essa, meu filho nunca reclamou
de ir para escola, mesmo com o autismo, nunca deu problema no colégio.
Lá ele tem vários amigos, não é um menino excluído. Não estou condenando
a escola em si, até porque, eu repito, ela foi muito importante no
desenvolvimento do meu filho, mas a postura que teve mostrou certo
preconceito."
O pai ainda não sabe se irá entrar com um processo contra a
instituição, já que não tem intenção de conseguir qualquer retorno
financeiro da situação. Mesmo assim, garante que não irá ficar quieto.
"Seria muito comodo eu deixar isso pra lá, mas eu não quero que outros
pais sintam o que eu estou sentindo, essa indignação corrói. Todo dia
quando eu acordo penso que, além das dificuldades que meu filho já
enfrenta por causa da patologia, por causa do autismo, ele ainda foi
excluído de um lugar que ama", se emociona Silvio.
O caso chamou a atenção de quem se dedica aos autistas. Fundadora e dirigente da Associação de Amigos dos Autistas de Sorocaba (Amas), a pedagoga Regina Célia Barros Humaytá conta que passou por uma situação semelhante a dos pais de Artur há 20 anos.
Hoje, o filho dela está com 27 anos, mas lembra que, na época, ele foi
impedido de continuar na escola onde estudava. Regina explica o que uma
escola tem que ter para atender um autista no dia-a-dia. "A escola tem
que ter especialização para atender o autista, ter profissionais
especializados, senão vai ser uma frustração de lidar com pessoas sem
ter especialistas", diz Regina.
Medida ilegal
De
acordo com o presidente da Comissão dos Diretos das Pessoas Deficientes
da OAB de Sorocaba, o advogado Alexandre Franco de Camargo, a medida é
ilegal e fere a Constituição. "Isso é discriminatório, não tem como
permitir uma coisa dessa. A educação é um direito das crianças e
adolescentes e a lei obriga que ela seja inclusiva. A escola tem que se
adaptar ao aluno e eu não falo só de acessibilidade no local, mas de
material didático especial e professores auxiliares para acompanhar a
criança."
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação nº 9.394/96 determina que os
sistemas de ensino assegurem aos educandos com necessidades especiais
“currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização
específicos, para atender às suas necessidades especiais”. "Dessa forma,
a justificativa que a escola deu, sobre não ter recursos para atender o
menino no próximo ano, é ilegal e deve ser repugnada", explicou o
presidente da comissão.
Além disso, a Lei 12.764/12, sancionada pela presidente Dilma Rousseff,
instituiu a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com
Transtorno do Espectro Autista. Esta lei prevê que a rede educacional se
prepare para lidar com situações como a do menino de cinco anos. A lei
institui que desde o ano de 2013 nenhuma escola pode negar uma vaga a
pessoas com autismo e o responsável pela recusa estará sujeito a multa
de três a 20 salários mínimos.
Camargo até orienta que, em casos como este de discriminação, os pais
procurem o Ministério Público para que seja apurada a responsabilidade
criminal. Além disso, um processo de danos morais e materais também deve
ser abertos segundo o advogado, para que seja feita a reparação devida
aos pais da crianças e à própria criança, que sofrerá com as
consequências da medida.
Fonte: http://g1.globo.com/sao-paulo/sorocaba-jundiai/noticia/2014/12/exclusao-de-autista-cria-polemica-sobre-criancas-especiais-em-escolas.html
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