Em 2016, matriculei meu filho em uma turma de musicalização infantil, em uma excelente universidade em Belo Horizonte. Na ficha de inscrição, não havia expressamente a pergunta sobre autismo ou outra deficiência e não mencionei. Honestamente, pensei que isso não faria a menor diferença.
No primeiro dia de aula, eu e o pai precisamos entrar com nosso filhote na sala e falei com a professora sobre o autismo. Era visível o fato de o Bernardo estar totalmente alheio às atividades: Enquanto a professora e os demais alunos estavam em roda cantando alguma música, ele ficava o tempo todo andando pela sala explorando os vários estímulos que haviam por toda parte, sem se concentrar em nenhum.
Na saída, fui questionada pela secretária sobre o autismo, e esta me sugeriu que eu transferisse o Bê para uma turma “especial”, apenas com crianças autistas. Fiquei super ofendida! Obviamente, não por meu filho conviver com outras crianças na mesma condição que a dele, mas pelo fato de as turmas serem separadas. Recusei efetuar a mudança de turma e pensei que o assunto estaria encerrado.
Poucos dias depois, a coordenadora do setor me telefona para comunicar que meu filho havia sido transferido para a tal turma especial. Senti-me impotente e fui desabafar com uma das terapeutas, que sugeriu que eu não desistisse das aulas sem antes dar uma chance ao novo professor. Fiquei surpresa ao perceber que ela também pensava que tal turma seria uma boa opção. Fui conhecer o professor apenas para não dizerem que eu não havia tentado, mas já havia dito para mim mesma que não daria certo.
Entretanto, para a minha surpresa, com poucos minutos de conversa percebi que, naquele caso, eu estava totalmente errada. O professor era muito habilidoso, atencioso, além de tecnicamente bastante capacitado. Não tive dúvidas que meu filho estaria muito bem em suas mãos. A sala era adaptada, com poucos estímulos (os instrumentos ficavam guardados e só eram apresentados aos alunos o que seria utilizado em cada momento)… Na ocasião, pensei: Seria válido manter meu filho em uma turma onde ele não teria tanto suporte a aproveitamento apenas para não ter que me haver com a ferida narcísica de ele estar em uma turma especial? Para mim, ficou claro que não.
A partir daí, Bernardo passou a participar de uma turma reduzida (com apenas mais um ou dois colegas) onde todos os alunos estavam no espectro. Foi uma experiência maravilhosa e o Bernardo recebeu suporte, atenção e olhar que jamais teria na outra turma.
Com relação à educação curricular, até o momento, nosso filho sempre freqüentou escolas e turmas regulares e assim irá continuar, a não ser que em algum momento não funcione mais e a mudança de estratégia se faça necessária. Entretanto, a experiência na aula de música me fez refletir sobre tais questões. A conclusão a que cheguei foi de não ser radicalmente contra a existência de turmas e escolas especiais e reconhecer que, em alguns casos, apesar de a criança ter direito à inclusão em escola regular, os responsáveis podem avaliar que a melhor opção seria outra. Quando digo isso, JAMAIS estou fazendo apologia à segregação do diferente, apenas sou contra radicalismos. Alguns pais e profissionais são contra turmas e escolas especiais em qualquer caso e qualquer situação, como se existisse receita de bolo, sendo que as coisas precisam ser avaliadas individualmente.
Como saber o que é o melhor, especificamente para a sua criança? Conhecendo, testando, experimentando, freando seus “pré-conceitos” e não descartando possibilidades antes de conhecê-las. E principalmente: Não julgando os pais que fizeram para o filho opções diferentes que você fez para o seu, considerando que as decisões foram baseadas em histórias e experiências que você desconhece.
Por Érika Andrade para o Criança e Saúde
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