Folha acompanhou aulas em unidade da rede municipal de SP; estrutura e professores fazem a diferença
Música? Sim, já há algum tempo a escola municipal Irineu Marinho, na região do Ipiranga (zona sul de São Paulo), trocou o incômodo sinal sonoro por uma canção para demarcar o tempo sem incomodar alunos com autismo que, muitas vezes, têm hipersensibilidade auditiva.
Do alarme ao banheiro, do material aos livros, tudo ali foi pensado para possibilitar que alunos com qualquer deficiência aprendam junto com alunos sem nenhuma deficiência.
A experiência da escola mostra que a inclusão é possível em uma unidade comum da rede municipal desde que haja estrutura e profissionais capacitados.
Pedro, 14, ao lado da professora Vanessa Albano, que o auxilia na aula de ciência / Danilo Verpa/Folhapress
Mesmo que algo não funcione, como o alarme naquela manhã, a ideia é que todos estejam juntos, mesmo que seja necessária uma adaptação, e não juntos só depois que tudo estiver funcionando perfeitamente.
O debate sobre a inclusão de alunos com deficiência em classes regulares ganhou força após a declaração do ministro da Educação, Milton Ribeiro, de que algumas crianças com deficiência “atrapalhavam entre aspas” o aprendizado de outros alunos na mesma sala de aula.
Defensor de classes especiais para crianças com deficiência mais grave, ele afirmou que elas não aprendem nas salas comuns.
“Esses 12% [de alunos], elas são, realmente, elas se atrapalham mutuamente. Nem uma ouve, nem o outro entende. Porque uma criança, por exemplo, com um grau muito elevado de um tipo de problema, essa criança não consegue aprender”, declarou.
Na Emef Irineu Marinho, as declarações causaram indignação.
“Ao pensar na criança com deficiência, o problema é pensar que existe um problema, porque não existe problema nenhum”, diz a diretora. “A limitação, se existe, está fora da criança, de não oferecer o que ela está necessitando. Porque todos nós temos limitações.”
Desde meados dos anos 2000, a política nacional para a educação especial prevê que alunos com deficiência estudem preferencialmente em classes regulares, se necessário com atendimento especializado no contraturno.
Antes, a maioria deles ou estudava em instituições e turmas separadas ou mesmo estava fora da escola.
De 2010 a 2020, as matrículas de educação especial quase dobraram, chegando a 1,3 milhão. Quase 90% desses alunos estudam em salas regulares.
Pesquisas mostram que a integração é vantajosa para os dois grupos. Alunos sem deficiência desenvolvem maior respeito e abertura ao novo. Alunos com deficiência têm acesso a um repertório maior do que teriam em uma instituição especializada e, integrados, têm até mais chance de acesso ao ensino superior.
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