Jairo Marques para o assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br
“Ele fala ou só fica assim paradinho?”… Minha família e meus amigos mais próximos tiveram de responder a esta pergunta vinda de curiosos diante de minha condição de cadeirantinho por centenas de vezes ao longo da minha infância.
A insistente atitude que temos de projetar incapacidades nos outros –ou de não vislumbrar suas capacidades– é especialmente mais displicente e despreocupada com a criança com deficiência.
Algumas décadas se passaram, já me tornei um “senhor cadeirante”, mas resiste entre nós um conceito extremamente ultrapassado de achar que os pequenos com algum tipo de comprometimento físico, sensorial ou intelectual –sobretudo os que aparentam condições muito desafiadoras de estar vivo– não possuem condições de se expressar, de interagir, de falar a seu modo, de gritar para o mundo os seus desejos.
Passamos o dia “conversando” por aplicativos, achando graça de figuras e dancinhas das “internets”, mas há uma dificuldade e um certo constrangimento de pensar que um sacolejar de pernas, uma piscadela, um agitar de cabeça ou mesmo um pezinho que balança pode representar uma porção de coisas e, vindas de uma criança, é bem provável que seja um gracejo, um afago ou um convite para conversar um pouco mais.
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