José Mario Graciano, 68, conversa com Ana Beatriz Aguiar, 8, que nasceu com deficiência auditiva
Quando duas irmãs pararam à sua frente sorrindo sem dizer uma palavra, José Mário dos Santos Graciano, 68, não entendeu o porquê de elas não responderem às tradicionais perguntas e brincadeiras do Papai Noel.
Discretamente, o pai delas revelou o motivo do silêncio. Eram surdas.
Foi naquele momento que ele decidiu aprender Libras (Língua Brasileira de Sinais).
"Percebi que só aprendendo a linguagem de sinais eu poderia dar oportunidade para as crianças surdas levarem seus pedidos ao Papai Noel, sentirem verdadeiramente a magia do Natal", afirmou o petroleiro aposentado, que há 13 anos personifica o Papai Noel em shoppings e festas familiares em São José dos Campos (SP) e cidades próximas.
Esse primeiro encontro com crianças surdas aconteceu há cerca de quatro anos, Hoje ele ainda não se considera fluente em Libras, mas já consegue se comunicar muito bem com elas, quando atua como o bom velhinho em um shopping da cidade.
"Vou continuar aprendendo para ficar cada vez melhor, a felicidade dessas crianças ao perceberem que Papai Noel consegue falar com elas é muito gratificante, compensa qualquer esforço", disse Graciano.
A proximidade das festas de fim de ano alegra a estudante Ana Beatriz Alves Aguiar, 8. Ela nasceu com deficiência auditiva profunda bilateral e usa Libras para se comunicar.
Ana Beatriz conheceu o Papai Noel Graciano em 2015 e, desde então, vai visitá-lo para conversar e fazer o seu pedido de Natal. Este ano, foi ganhar uma boneca Cinderela.
"Essa iniciativa é muito importante para as crianças com deficiência auditiva. Elas sentem uma felicidade imensa quando são compreendidas pelo Papai Noel", disse Edna Maria Alves da Silva, mãe de Ana Beatriz.
A pequena Jamilly, 4, deixou a timidez de lado e deu muitas gargalhadas ao lado do Papai Noel Graciano. "Eu fiquei surpresa, minha filha é muito tímida, retraída. Mas com o Papai Noel ela se soltou, ficou muito feliz mesmo por conseguir conversar com ele", afirmou Yasmini Ribeiro Bastos, mãe de Jamilly.
As duas estudantes foram ao shopping com um grupo de crianças assistido pela AADA (Associação de Apoio ao Deficiente Auditivo) da cidade.
"As crianças se sentem surpresas e felizes quando em um ambiente diferente do familiar e institucional encontram pessoas que compreendem a linguagem de sinais", disse a psicopedagoga Jussara Alvarenga, da AADA.
"Poder ir a um lugar como o shopping e conseguir conversar com o Papai Noel é uma felicidade muito grande para elas".
No shopping, Graciano divide a função de Papai Noel com Paulo do Canto Hubert, de 73 anos. A escolha dos dois representantes foi estratégica: Graciano se comunica em libras e Hubert, em inglês.
"Encontramos o senhor Paulo, que fala inglês, o que é fundamental aqui na nossa região, recebemos muitos estrangeiros", afirmou a gerente de marketing do shopping, Margarete Sato.
Tânia Campelo para Folha de S. Paulo
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